O esporte é um dos grandes aliados da educação de crianças e adolescentes. Por meio dele, valores éticos e morais, como a socialização, a cooperação, a solidariedade, a disciplina, o espírito de equipe e tantos outros, fundamentais para a formação integral de uma pessoa, podem ser trabalhados e desenvolvidos. A busca de uma melhor compreensão do esporte como marco social para as crianças e os adolescentes, aliada às ideias da Carta Olímpica aos valores e à realidade esportiva é um princípio para o desenvolvimento de uma abordagem pedagógica acerca do esporte contemporâneo. Em 2005, uma declaração oficial de Kofi Annan, o secretário-geral das Nações Unidas à época, indicou que “pessoas de todas as nações amam esporte: seus valores – fair play (jogo “limpo” ou honesto), cooperação, busca pela excelência – são universais”. Em documento orientado à campanha Esporte para o Desenvolvimento e a Paz (2005), Annan afirmou que “o esporte é linguagem universal”.
Na melhor das hipóteses, ele une as pessoas, não importa qual a sua origem, situação, crença religiosa ou status econômico. Ao participar de esportes ou ter acesso à educação física, os jovens podem ter prazer, mesmo quando aprendem os ideais do trabalho em equipe e da tolerância. Adolf Ogi (2005), assessor especial do secretário-geral à época, reforçou a posição anterior de que “o esporte, com suas alegrias e conquistas, suas dores e derrotas, suas emoções e desafios, é um meio incomparável para a promoção da educação, saúde, desenvolvimento e paz”. Indicou, ainda, que o esporte ajuda a demonstrar, na busca pelo aperfeiçoamento da humanidade que, nesse meio, há mais questões que unem do que questões que dividem.
Afinal, pergunta-se: qual é o papel do esporte no desenvolvimento humano? Para trabalhar essa questão, parte-se do pressuposto de que praticar uma atividade física não é apenas importante, mas é necessário para um crescimento sadio e para o desenvolvimento humano, independentemente da modalidade ou da dimensão esportiva escolhida. Especialistas de diversas áreas, especialmente da educação física, têm apontado os benefícios da atividade esportiva na infância, e também alertam para o aspecto demasiadamente competitivo, muitas vezes imputado a essa prática. No entanto, por acreditar que o esporte favorece o desenvolvimento humano, ele pode ser considerado como importante elemento da cultura, com relevância nos programas educativos, mas também como um elemento de comparação, seleção e competitividade, que conduz, em certas circunstâncias, a excessos, submetendo as crianças, durante a atividade esportiva, a assumir responsabilidades de adultos para as quais elas podem não estar preparadas.
Assim, uma criança ou adolescente participante de um campeonato realizado nos moldes de um campeonato adulto, estará competindo com outras da mesma idade cronológica, mas de diferentes idades biológicas, ou seja, a idade que realmente corresponde à fase de crescimento e aprendizagem em que se encontra. Nota-se, assim, que o esporte pode tornar-se inadequadamente seletivo, uma vez que beneficia as crianças com crescimento acelerado ou com maior idade biológica em detrimento das demais. Esse fato vem consequentemente, ao encontro das conclusões apontadas por estudos realizados em vários países, conclusões que, invariavelmente, são as mesmas: “só uma percentagem muito reduzida de campeões em idade jovem chega a campeão na idade de altos rendimentos” (MARQUES, 1997, p. 23).
Assim, faz-se necessário referendar um dos princípios fundamentais da Carta Olímpica, que estabelece que um dos objetivos do Movimento Olímpico é educar a juventude por meio do esporte praticado sem qualquer tipo de discriminação e dentro do espírito olímpico, o que exige compreensão mútua, amizade, solidariedade e fair play. Nesse contexto, ao compreender o esporte como um fenômeno socialmente construído, subentende-se que ele pode contribuir para a saúde, a educação, a socialização e a construção da imagem corporal dos seus participantes, assim como da imagem do país representado. A valorização da imagem corporal trouxe ao esporte um novo conceito que o trata com proporções espetaculares a partir da segunda metade do século XX (TURINI; DaCOSTA, 2002, p. 17).
Essa visão do esporte obteve um crescimento inesperado com a demanda evolutiva dos meios de comunicação de massa, que passaram a transmitir via satélite imagens que exaltavam toda a beleza performática dos atletas e, de acordo com o quantitativo de medalhas e títulos conquistados, a imagem positiva ou negativa do país que esses atletas representavam. Para ambas as situações ou áreas anteriormente mencionadas com as quais o esporte pode contribuir, deve existir comprometimento e dedicação dos profissionais e participantes envolvidos, de modo que tenham clareza e consciência das relações estabelecidas nesse meio e dos fenômenos socioculturais implícitos no decorrer do processo da sua constituição e construção histórica. Para tanto, parte-se da compreensão de que a competição, como meio de educação, deve ter um sentido mais amplo do que ser apenas um evento em que equipes se confrontam, em que uns ganham e outros perdem, em que uns são premiados e outros não. Tem-se clareza de que o esporte, em uma visão ampla e mais abrangente, quando orientado para o rendimento, não está no nível do esporte profissional, nem os professores que dirigem as equipes devem ser considerados treinadores, mas, acima de tudo, educadores.
O PAPEL DO ESPORTE
Em 2008, Noleto destacou o papel do esporte no processo de formação e de desenvolvimento humano, destacando a seguinte ideia: “Quando você dá uma bola a um menino, incute nele um sentido e uma direção”. Para Noleto (2008), essa simples frase, dita por um professor de educação física, resume os efeitos positivos que as atividades esportivas exercem na formação das crianças e dos jovens. Além de integrá-los – bem como as suas comunidades –, a oferta de atividades esportivas, artísticas e culturais ajuda na socialização e na reconstrução da cidadania. A atividade esportiva contribui para o desenvolvimento de competências cognitivas, afetivas, éticas, estéticas, de relação interpessoal e de inserção social.
A distribuição de papéis, o convívio com as regras, a relação estabelecida entre a vitória e o fracasso e, por fim, a rivalidade e a cooperação, cultivam valores e comportamentos condizentes com as próprias bases democráticas sobre as quais se fundamentam a sociedade contemporânea. Nesse sentido, sem perder de vista suas dimensões tradicionais, o esporte é também reconhecido, atualmente, como essencial para a cidadania, o respeito aos direitos humanos, a inclusão social e o combate à violência, sendo um fator que pode contribuir decisivamente para a formação de uma cultura de paz e de não violência, na perspectiva do objetivo mais geral das Nações Unidas e para o desenvolvimento, tendo como paradigma a sustentabilidade. Por fim, acredita-se que a promoção de valores por meio do esporte representa uma pequena, mas eficaz forma de desenvolvimento de valores humanos, condizentes com atitudes e ações de uma sociedade mais justa e menos discriminatória. Nesse processo, os profissionais de educação física e dos esportes atuam como protagonistas.
Para pensar e refletir:
01 – Cite alguns valores éticos e morais que podem ser trabalhados através do esporte?
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02 – O que é o fair play?
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03 – Quais os riscos que o esporte competitivo na infância pode trazer a seus participantes?
04 – Quais os riscos que o esporte competitivo na infância pode trazer a seus participantes?
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05 – Qual a relação entre a valorização da imagem corporal e o esporte?
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06 – Qual o papel do esporte na formação humana?